terça-feira, 30 de maio de 2017

A linguagem

A linguagem pode ser entendida como a capacidade que todo ser humano tem de se comunicar, constituindo todo sistema de sinais ou signos convencionais que nos permite a comunicação. 

Os signos são os sinais que os seres humanos produzem quando se comunicam. Ao falar ou escrever, por exemplo, você está usando o signo linguístico. O signo representa algo que não está presente. Assim, os signos são usados para designar ou significar alguma coisa. Mais adiante, você aprenderá um pouco mais sobre as características do signo linguístico. 

A linguagem humana pode ser verbal e não verbal. A linguagem verbal se vale da palavra, seja escrita ou falada. A linguagem não verbal é aquela que utiliza um tipo de código diferente da palavra. É o caso das imagens, dos ícones, dos gestos, das cores, dos sons etc. 

Pode-se dizer que a língua (falada ou escrita) é uma linguagem humana específica, baseada na palavra. Dito de outra forma, a língua é a linguagem verbal. Assim, a língua é um tipo de linguagem humana. Por outro lado, é possível afirmar que a música, a pintura, a dança, o teatro, o cinema e outras expressões são um tipo de linguagem humana, por isso é possível se referir à linguagem musical, linguagem corporal, linguagem pictórica e por aí em diante. 

Ao se fazer a distinção entre linguagem verbal e não verbal, é preciso lembrar que a comunicação se dá por meio do uso dos dois tipos de linguagem. Ao falar com alguém ou discursar para determinado público, provavelmente, você fará uso da linguagem verbal (a fala) e também da linguagem não verbal (gestos, postura corporal, tom da voz, recursos visuais etc.). 

A linguagem, seja ela verbal ou não verbal, pode ser entendida como uma forma de expressar intenções sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc. Essa expressão por meio da linguagem pode até não levar muito em conta o outro, ou seja, negligenciar o receptor ou interlocutor, já que é possível haver intenção e preocupação centradas apenas na expressão, na exteriorização de algo. Por isso, a linguagem também precisa ser entendida como um instrumento de comunicação. Isso quer dizer que a linguagem deve ser vista como um código que permite a comunicação, o diálogo, com a participação de emissor e receptor. É possível, porém, avançar um pouco mais na compreensão da linguagem e perceber que ela é mais do que tradução e exteriorização do pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação.

Ao usar a linguagem, o indivíduo é um sujeito que realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). A linguagem, desse modo, é uma experiência de interação social. Nesse caso, ganha importância quem fala ou escreve; para quem se está escrevendo; de que modo o texto foi escrito; quais as intenções do autor do texto; de que forma o leitor interpretará o que está escrito; que consequências o texto pode trazer etc.

Tratando especificamente da linguagem verbal, a própria língua, é preciso destacar que um importante linguista, Ferdinand Saussure (1969, p. 24), afirmou que a língua é um sistema de signos que exprimem ideias. Lembrando o que foi dito anteriormente, o signo está relacionado com o fato de alguma coisa estar no lugar de outra, ou seja, uma coisa substitui outra no processo comunicativo, desencadeando a ideia de representação. Assim, quando eu digo “Fogo!”, não vou literalmente me queimar por ter essa palavra em meus lábios, nem sentirei algum ardor físico em minha língua por pronunciar esse vocábulo. A palavra “fogo” representa algo, refere-se a determinado elemento que nós denominamos, na língua portuguesa, como “fogo”. 

Desse modo, os signos são artificiais porque são elaborados especialmente para a comunicação e são representativos porque substituem o “objeto a conhecer apresentando-o aos indivíduos” (BORBA, 1998, p. 18). 

Para Saussure, o signo linguístico é composto de dois elementos ou uma dupla face: significante e significado. Saussure chamou de significante a parte sensível, concreta e material do signo linguístico e denominou de significado a parte imaterial e não sensível do signo linguístico. Assim, o signo linguístico transmite uma informação valendo-se de uma parte material, sensível e perceptível associada a outra parte imaterial e inteligível. 

Pode-se dizer, então, que “o signo linguístico é uma unidade constituída pela união de um conteúdo com uma expressão (os sons) que o veicula. A essa expressão chama-se significante; ao conteúdo, significado”.  Ao se unir um significante a um significado, tem-se um signo denotado (denotação); quando se junta a esse primeiro significado um segundo sentido ou significado, tem-se um signo conotado (conotação) (PLATÃO & FIORIN, 2003, p. 157). 

Expansão marítima europeia

Não é possível compreender os processos da formação social, política e econômica do Brasil sem inseri-los no contexto da expansão comercial marítima europeia do século XV. Após a centralização do poder, no final da Idade Média, Portugal foi governado, por mais de duzentos anos, pela dinastia de Borgonha, desenvolvendo-se economicamente devido à agricultura e ao comércio, o que favoreceu o fortalecimento de uma burguesia poderosa e dinâmica. 

Com a morte de Fernando I, em 1383, a dinastia de Borgonha chegou ao fim. Sem deixar herdeiros do sexo masculino, a rainha D. Leonor Teles assume o poder em caráter de regência, pretendendo entregá-lo à sua filha Beatriz, casada com o rei de Castela, que em nome das antigas relações de parentesco reivindicou o direito à sucessão do trono português. A sociedade portuguesa ficou dividida: de um lado a nobreza, interessada nos privilégios que poderia obter com a unificação, camada social essa que contou com o apoio do rei de Castela; e de outro a burguesia, que, juntamente com as camadas populares, não aceitava a referida união, pois desejava permanecer independente e sob o mando de um rei que apoiasse o crescimento comercial. Dessa forma, impulsionada por esse desejo, a fortalecida burguesia aliou-se a D. João, irmão bastardo do falecido rei D. Fernando e Mestre da Cavalaria de Avis, e tomaram o poder. A ascensão de uma nova dinastia, apoiada  no poder da burguesia, ficou historicamente conhecida como Revolução de Avis (1383-1385), evento que iniciou um novo período na história mundial (HOLANDA, 2004, p. 15).

O poder da nova dinastia, como já destacamos, consolidou-se a partir da aliança com a burguesia que, juntamente, com o apoio da Igreja Católica e dos conhecimentos náuticos acumulados devido às atividades pesqueiras facilitadas pela proximidade ao mar, Portugal reunia pontos favoráveis à expansão marítima. Esses fatores atribuíram a Portugal o pioneirismo nas Grandes Navegações. 

Para melhor compreensão, podemos dividir a expansão marítima portuguesa em duas fases: a primeira estende-se de 1415 a 1488 e é conhecida como Périplo africano, devido a conquista do centro comercial de Ceuta, no norte da África e à descoberta do Cabo das Tormentas, que abriria caminho para as Índias; a segunda fase, também chamada de Oriental, abrange o período entre 1488 e 1530; indica o quadro mais marcante do processo de expansão, pois culminou na descoberta, por Vasco da Gama, de um novo caminho para o Oriente, desejo antigo de Portugal. Durante essa segunda fase os portugueses pisaram pela primeira, oficialmente, em solos brasileiros, pois a expedição comandada por Pedro Álvares Cabral fez parte do tão sonhado projeto de conquista do Oriente. 

Com relação à chegada dos portugueses ao Brasil, é pertinente lembrarmos as controvérsias existentes em torno desse acontecimento, porque muitos historiadores contestam a ideia de que os portugueses chegaram ao Brasil por “acaso”, uma vez que o Tratado de Tordesilhas, definido em 1494, mencionava que Portugal tomaria posse das terras que o Tratado lhe confiava. Assim, essa corrente historiográfica afirma que Portugal supunha, ou sabia, que as terras existiam, explicitando a luta pelo Tratado de Tordesilhas.
(...) Seja como for, os indícios mais ou menos vagos de crença na existência de terras ocidentais já antes da jornada de Pedro Alvarez Cabral ainda não bastam para atestar seguramente o seu conhecimento. (...) certamente com mais razão, cabe dizer do resultado da análise da carta de Pero Vaz de Caminha pelos que defendem a qualquer preço a tese da intencionalidade do “descobrimento” do Brasil em 1500. Embora nesse documento, a mais meticulosa dentre as fontes primárias que se conhecem acerca do descobrimento, o autor começasse por transmitir expressamente a Sua Alteza a nova do achamento “desta vossa terra nova que nesta navegação agora se achou”, não tem faltado quem visse na própria expressão “achamento” prova decisiva de que o encontro da terra não fora acidental. Pretendeu-se que, na linguagem quinhentista, a palavra “descobrimento” bem pode sugerir encontro fortuito, ao passo que o vocábulo “achamento” aponta forçosamente para a intencionalidade. Só se “acha”, segundo essa opinião, aquilo que antes se procura (...) (HOLANDA, 2004, p. 44).
 Para outra corrente historiográfica, os indícios a esse respeito não bastam para comprovar a tese de que os lusitanos tenham chegado aqui por obra do acaso; no entanto, não descartam completamente essa possibilidade. 
Desde o século XIX, vem se discutindo que a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do acaso, sendo produzida pelas correntes marítimas, ou se já havia conhecimento anterior do Novo Mundo e uma espécie de missão secreta para que Cabral tomasse o rumo do ocidente. Tudo indica que a expedição se destinava efetivamente às Índias. Isso não elimina a probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, terem frequentado a costa do Brasil antes de 1500 (FAUSTO, 2001, p. 14).
Enfim, posteriormente à chegada da esquadra portuguesa, a nova localidade permaneceu em segundo plano, pois, como está claro na carta de Caminha, não havia indicações da existência de ouro e pedras preciosas. Além da ausência de “preciosidades”, a população aqui existente praticava atividades agrícolas de subsistência e não necessitava de produtos importados vendidos pelos portugueses. As florestas, os indígenas, os perigos apresentados pelo desconhecido e os gastos com as navegações pelo Atlântico tornaram a exploração bastante restrita durante os primeiros anos que se seguiram ao “encontramento ”.


Efetivamente, a expansão ultramarina européia, que se inaugura com os descobrimentos portugueses no século XV, significou, na primeira fase digamos pré-colonizadora, uma extraordinária redefinição da geografia econômica do ocidente pela abertura de novos mercados, montagem de novas rotas, conquista monopolista de novas linhas para a circulação econômica internacional; já na sua gênese, este movimento expansionista revela suas relações profundas com o Estado moderno em formação. Assim, enquanto tradicionalmente se procurava explicar os descobrimentos ultramarinos em função de fatores externos, extraeuropeus, a colocação moderna do problema encara a expansão ultramarina como produto das “condições particulares dos próprios países atlânticos”, isto é, são os problemas da economia da Europa Ocidental que levam ao esforço para a abertura de novas frentes de expansão comercial e à abertura de novos mercados – a expansão atlântica apresenta-se, de fato, como forma de “superação da crise” europeia do fim da Idade Média. (...)

Esta primeira fase da expansão europeia consistiu, basicamente, na abertura de novos mercados e no estabelecimento de condições vantajosas para a realização deste comércio ultramarino; acelerava-se, assim, a acumulação capitalista na Europa. Mas, no processo de expansão, como é sabido, os europeus acabaram por descobrir (ou redescobrir) o Novo Mundo; aqui as condições diferiam radicalmente daquelas encontradas no Oriente: seria impossível prosseguir na exploração puramente comercial do ultramar, dado que inexistia nesta parte a produção organizada de produtos que interessassem ao mercado europeu. (...) 

Efetivamente inserida no contexto mais geral do antigo regime, isto é, no contexto da política mercantilista do capitalismo comercial executada pelo Estado absolutista, a colonização da época moderna revela, nos traços essenciais, seu caráter mercantil e capitalista; queremos dizer, os empreendimentos colonizadores se promovem e se realizam com vistas, sim, ao mercado europeu, mas, considerando a etapa em que isto se dá, a economia europeia assimila esses estímulos coloniais, acelerando a acumulação primitiva por parte da burguesia comercial.

Ética filosófico e os problemas éticos

Estudar o ser humano é lançar-se sobre um imenso labirinto de definições e possibilidades de interpretações. Paralelamente, diante deste tema identificam-se inúmeras facetas, e dentre estas se destaca a dimensão simbólica.

O homem, desde que percebeu a sua consciência diante do mundo, busca se autoconhecer e se questiona, então, sobre sua própria capacidade. De outro modo, como se estabeleceria o processo do conhecimento? Aliás, o que é o conhecimento? Como é possível definir um objeto? Para estes questionamentos direciona-se a análise deste capítulo, que busca identificar no ser humano toda a sua atividade simbolizadora, que constrói e estabelece paradigmas morais, sociais, políticos, religiosos, enfim, modelos  significativos e organizadores de inúmeras culturas. 

Por meio do contato entre consciência e mundo externo, o homem traz para a realidade a sua atividade simbólica, presente em sua existência há muito tempo. Talvez por isso esta dimensão seja uma das mais evidentes e possíveis de ser interpretada ou estudada. Em contato com esta relação, o homem recria a sua realidade, estabilizando formas e valores que antes eram despercebidos. Esta dimensão simbólica é exercida como um potente mecanismo catártico e passa a ser desenhada por meio de símbolos e significações de grande valor expressivo para a própria realidade e subjetividade autorrealizadora. 

Dentro desse processo de significação, pedagogicamente encontram-se subdivididas duas dimensões: a cognociva, que busca representar a realidade por meio de conceitos e formas (símbolos); e os dados significativos, atribuídos à qualidade exercida ao próprio ser humano. Deste modo, a significação passa a ganhar uma valorização no que diz respeito à importância e à função para a realidade humana. Do contrário, se as produções simbólicas não ganhassem poder de valor, não existiriam de modo algum as áreas científicas, como as artes, a literatura, enfim, todas as facetas do conhecimento humano, pois elas existem e subsistem graças à significação que a elas é atribuída. 

No campo científico, a atividade simbólica do ser humano sempre se colocou como um importante mecanismo de estudo, seja no âmbito da psicologia, seja no da sociologia, da linguística etc. Utilizam-se aqui inúmeros recursos, como a própria perspectiva de buscar estabelecer critérios justos para uma ampliação do assunto, pois este processo de simbolização passa a equiparar também a própria sensibilidade humana, que, levada ao campo da consciência, passa a ser exteriorizada como um retorno representativo e avaliativo, formando conceitos e conjecturas sempre novas diante do mundo, da essência, do ente etc. 

Essa realidade simbólica é promovida pela sensibilidade, que identifica os objetos e a estes passa a atribuir conscientemente um valor e uma forma. Encontramos sua força na intelectualidade, na ética, na religião, na linguagem, na arte, enfim, na própria manifestação sensorial do espírito humano. Para tanto, identificam-se em especial duas manifestações desta sensibilidade: a linguagem e a arte. Vejamos suas compreensões no âmbito das suas funções significativas. 

O homem, desde que adquiriu esta consciência histórica e promissora de possibilidades simbólicas infinitas, é também compreendido como um ser de relações, seja com o próximo, seja para com o próprio mundo externo. Consequentemente, para que se aprimore este nó de relações, é necessário ao homem um estabelecimento de decodificações, para que se edifique evolutivamente uma melhor comunicação, seja na relação sujeito e objeto, seja na relação homem e seus semelhantes. 

A linguagem tem por meta e função facilitar a relação entre a realidade simbólica, a cultura, o conhecimento, a religião, a comunicação etc. É por meio do estabelecimento de uma linguagem que o homem passa a gravar e informar, comunicar sobre a cadeia histórica das suas realidades de valor, simbolizadas através de suas convenções culturais, morais etc. 

Por vezes, a arte – que é a própria expressão exteriorizada do sujeito que busca manifestar sua experiência do mundo sensorial e da fantasia em um determinado campo de manifestação – passa a identificar, nesta dimensão, imensas capacidades estéticas, valorativas, qualitativas etc. Isto se deve à estabilização com que esta forma de manifestação se impõe sobre o próprio ser humano, ou seja, a arte utiliza todos os recursos sensoriais, como o olfato, a visão, o tato, o paladar, a audição, e todos os equipamentos de conhecimento, que se tornam, no processo criativo, imensas ferramentas auxiliares e fundamentais para que se produzam grandes fontes criativas e significativas no mundo da arte. É por este motivo que se valorizam, diante da manifestação artística, o belo, o harmônico, o agradável. O fator de destaque é que o homem, sendo uma complexidade de dimensões, na simbolização do mundo passa a utilizar todos os seus mecanismos. Deste modo, ele passa a experimentar o mundo e até mesmo a recriá-lo para o estabelecimento de valor, de significação.

Essa atividade simbólica, que é fruto da exterioridade e da subjetividade humana, não é forçada, mas natural, ou seja, tem relação própria com a natureza humana. Com isso, negar ao homem sua condição de experimentar, recriar, interpretar o mundo segundo a consciência cultural é negar-lhe a sua própria condição humana. A compreensão de tal fato faz-se extremamente importante para o processo educacional, que deve ser auxiliado por esta exposição do indivíduo no mundo, a fim de que sejam despertadas realidades simbólicas, suscitadoras de juízo, valores e formas, esferas fundamentais para a construção de cidadania.

Por meio da compreensão histórica e sociológica em torno do processo de linguagem e significação que o homem enquanto ser subjetivo direciona para a realidade objetiva, encontramos um pleno desenvolvimento das faculdades dele enquanto ser que pensa, fala, conhece, interpreta e recria um mundo paralelo além das aparências.


A ética do justo meio

A conceituação aristotélica da felicidade como a vida racional virtuosa, o bem supremo do homem que se concretiza na sociedade política, não deve nos conduzir à falsa conclusão de que o filósofo preconiza um controle repressivo da razão sobre as inclinações irracionais da alma humana. Ao contrário, Aristóteles não apenas reconhece a importância dos apetites e das paixões na vida dos homens, como atribui ao desejo uma condição motriz no ser humano: os homens são seres desejantes cujas ações visam sempre a um fim agradável ou não doloroso. Aproximando-se naturalmente do que promete prazer e evitando o que acena com a dor, os homens revelam sua semelhança com os animais. Porém, relacionando-se adequadamente com o prazer e a dor, afirmam-se como seres virtuosos.

O homem virtuoso não ignora o prazer e a dor, estabelecendo, isto sim, uma relação racional com ambos, pela qual experimenta os sentimentos certos nas ocasiões pertinentes. Ao invés do conflito entre razão e desejo, temos a confluência de ambos, de tal modo que não se deseja nada além daquilo que é condizente com a finalidade da vida, ou seja, sente-se prazer em agir virtuosamente. 

Nessa perspectiva, o filósofo situa a mediania moral como ponderação entre os extremos, localizando o vício na carência e no excesso. O vício é o contrário da virtude. Enquanto esta é a excelência moral, o que, em Aristóteles, consiste na vida racional do homem em sociedade, o vício é a imoralidade do homem. Como vimos, de acordo com a filosofia moral aristotélica, o bem situa-se sempre na natureza, é conforme o que é natural, e o mal é o que se desvia do que é prescrito pela natureza. Assim, se a finalidade natural humana é a existência racional, o homem que se movimenta somente pelas paixões perverte sua natureza, enredando-se nos vícios.

A mediania ou, como é mais conhecida, a ética do justo meio corresponde ao ajuste entre a intensidade dos sentimentos experimentados pelos indivíduos e as exigências apresentadas pelas situações. Portanto, dentre as virtudes enumeradas por Aristóteles, estão a coragem, a generosidade, a brandura, a espirituosidade e a moderação, que são termos médios, respectivamente entre temeridade e covardia, prodigalidade e mesquinhez, irascibilidade e desalento, bufonaria e indelicadeza, e desregramento e insensibilidade.

A coragem é a virtude do homem que teme as situações que, de fato, devem ser temidas, por apresentarem riscos desnecessários para si e para as pessoas de sua comunidade, mas que não hesita em enfrentar os perigos quando as circunstâncias exigem tal postura para a preservação do bem comum. O covarde, por sua vez, a tudo teme, aterrorizando-se com quaisquer ameaças, ainda que sejam mínimas ou improváveis. Na outra extremidade, o temerário excede-se em ousadia, expondo-se a toda sorte de situações adversas e comprometendo a própria finalidade da vida ou, o que é pior, muitas vezes fazendo questão de exibir uma coragem que sequer sente. 

Justa medida igualmente é a generosidade, que consiste no uso apropriado dos recursos financeiros em benefício das pessoas que necessitam e que têm merecimento para tanto. O generoso dispõe suas riquezas ao bem comum nas ocasiões certas, sem negar aos outros auxílios ao alcance de suas possibilidades e sem se desfazer de seu patrimônio em gastos supérfluos. Na deficiência da generosidade existe a mesquinhez, o apreço exagerado aos valores econômicos, impedindo a cessão de dinheiro em circunstâncias que justificariam as doações. Em sentido oposto age quem é tomado pela prodigalidade, que desperdiça seus bens materiais utilizando-os sem critérios, frequentemente empregando-os com pessoas e situações impróprias, ou mesmo em quantidades que ultrapassam largamente sua base financeira. 

A brandura, por seu turno, é a virtude relativa à ira. O homem brando sente cólera nas ocasiões que assim o exigem, quando, por exemplo, alguém de sua estima é vítima de uma injustiça, manifestando-a de modo ponderado e sem inclinar-se a procedimentos vingativos. Desalento e irascibilidade são os vícios dessa paixão. No primeiro caso, constata-se a indisposição de indignar-se ante quaisquer situações, por mais absurdas ou agressivas que sejam. No segundo caso, a cólera assume proporções descontroladas e não diferencia os acontecimentos que realmente a solicitam daqueles em que esse sentimento é inoportuno, estendendo-se ainda para além dos momentos em que a ensejam e, comumente, resultando em ações profundamente ofensivas.

A espirituosidade é o meio termo entre a indelicadeza e a bufonaria. Indelicado é quem não reage educadamente em encontros sociais de entretenimento, persistindo em um mau humor explícito nas mais descontraídas conversações. O bufão, por outro lado, destaca-se por valer-se de sua irreverência com o propósito de chamar a atenção para si, fazendo de tudo objeto de diversão e, com isso, tornando seu humor desmedido e sua presença inconveniente. Nessas questões, é o espirituoso quem procede com mediania (equilíbrio), conduzindo-se de maneira bem-humorada e divertindo-se com outros nas ocasiões que favorecem a descontração sem o risco da vulgaridade. 

A moderação ou temperança, por fim, concerne aos prazeres do corpo – bebida, alimentação, sexualidade –, aos apetites que são comuns aos seres humanos e aos animais em geral. Remetem, portanto, claramente às relações entre razão e desejo sob o prisma aristotélico da virtude, pois a moderação pode ser definida justamente como a harmonização do desejo com a racionalidade, na qual os prazeres são vividos na intensidade e nas ocasiões oportunas, sem carências ou excessos. Uma vida pervertida nos prazeres corporais excessivos incorre no vício do desregramento, pelo qual o homem mistura-se à animalidade. Uma vida que despreza completamente os prazeres corporais – situação muito rara, segundo Aristóteles – é acometida de uma insensibilidade que nega a própria natureza humana.


O homem como ser político

Essa definição da felicidade como atividade humana racional tornasse mais compreensível se a situarmos na concepção teleológica aristotélica, segundo a qual as coisas transcorrem adequadamente se seguem o curso determinado pela natureza, no qual os inferiores são submetidos aos superiores e o todo é sempre mais perfeito do que as partes. Para Aristóteles, a natureza dispõe a fêmea ao domínio do macho, o escravo ao domínio do senhor, as crianças ao domínio dos adultos e a alma irracional ao domínio da alma racional. A vigência da razão virtuosa, por seu turno, é viável apenas na sociedade política, naturalmente superior aos indivíduos, portanto.

Em seu livro A política, Aristóteles descreve essa hierarquia natural a partir das relações domésticas, a primeira unidade social para a qual se inclinam os seres humanos (2002, p. 9-65). No interior desses núcleos familiares, escravos, crianças e mulheres estão sob a dependência do homem livre, ou melhor, submetidos, respectivamente aos poderes despótico, paternal e marital. Nessa ordenação natural, sublinha-se o predomínio da razão sobre aquilo que é irracional, caracterizando uma supremacia que se verte em benefícios para todos. 

O poder paternal sobre os filhos e marital sobre a esposa é justificado pela carência de razão das crianças e das mulheres, que, consequentemente, dependem do comando racional do homem – pai e marido – para a condução de suas vidas, com a única diferença de que os descendentes do sexo masculino, ao alcançarem a idade adulta, serão plenamente capazes de usar sua própria razão, emancipando-se do princípio racional paterno. 

Não é diferente a fundamentação aristotélica do poder do senhor sobre os escravos, explicada na suposta inferioridade natural destes últimos, que, conquanto capazes de perceber a razão em seu senhor, não conseguem jamais fazer uso próprio da razão, limitando sua contribuição à sociedade ao labor de seus corpos. Desse modo, ainda que o poder do senhor sobre o escravo, despótico, seja exercido para atender somente aos interesses do primeiro, a dominação é estabelecida pela natureza em benefício de ambos, pois o escravo teria pior sorte se fosse entregue a si mesmo. Não sendo naturalmente capaz de liberdade, tem no senhor a dimensão racional que lhe falta. Sendo a virtude sempre algo conforme a natureza, o mérito do escravo é resignar-se ao domínio do seu senhor, executando devidamente os serviços que lhe são ordenados.

Nesse sentido, Aristóteles estende sua argumentação à composição da pólis ou sociedade política, compreendida como construção prescrita pela natureza aos homens, não apenas por permitir maior estabilidade econômica e segurança militar, mas, sobretudo, pela finalidade de promover o bem viver dos homens, ou seja, a vida racional virtuosa. Dito de outro modo, assim como escravos, crianças e mulheres não têm autonomia e não podem existir por si, mas somente integrados no poder da sociedade doméstica, os indivíduos e as associações intermediárias não existiriam verdadeiramente fora do todo, quer dizer, da sociedade política para a qual são naturalmente propensos. O poder político, por sua natureza, diferencia-se dos poderes despótico, paternal e marital. Esses poderes domésticos, afinal, são exercidos por um superior sobre seus inferiores, e, além disso têm por fim o benefício específico de alguns, enquanto o poder do Estado é partilhado entre iguais, os cidadãos, e visa o bem comum. 

Essa sociabilidade inscrita na natureza dos homens, na qual os seres humanos realizam concretamente sua humanidade, exprime-se no conceito de philia, sobre o qual Aristóteles discorre em Ética a Nicômaco (2007, p. 235-264). Definida pelo filósofo como uma das exigências indispensáveis da vida, pois não seria pensável alguém escolhendo uma existência sem amigos, a philia ou amizade é discriminada em três tipos, de acordo com os motivos nos quais se sustentam: o útil, o agradável e o bem. 

Na amizade alicerçada na utilidade, os amigos se vinculam apenas por interesses próprios, ou seja, pelos benefícios que se possam extrair da relação, sendo que esta termina tão logo deixe de oferecer vantagens às partes envolvidas. Situação análoga verifica-se na amizade que se sustenta naquilo que é agradável, isto é, no prazer que se obtém na companhia do outro, sem que haja um afeto autêntico entre os amigos, pois desaparecendo o bem-estar que a presença de determinada pessoa proporciona, encerra-se também a amizade que se sente por ela. Ambas as formas de amizade, erguidas sobre a utilidade ou sobre o agradável, são imperfeitas, segundo Aristóteles, porque não existem pelo que os amigos são em si mesmos, mas pelo benefício pessoal ofertado pela amizade. 

A amizade perfeita é aquela em que os amigos se associam pelo afeto desinteressado que nutrem um pelo outro, desconsiderando-se qualquer benefício adicional que a relação apresente. Na amizade pelo bem, os amigos admiram-se pelo que, de fato, são e desejam o melhor um ao outro, constituindo-se o senso de comunidade no qual vigora a noção de bem comum, finalidade natural da sociedade política.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O Positivismo de Auguste Comte

Para entendermos o positivismo é preciso conhecermos seu criador: August Comte e a época em que vivia.  Auguste Comte nasceu em 1798 e faleceu em 1857, tendo vivido em um período rico em descobertas científicas e invenções, quando também o desenvolvimento das cidades era intenso e emergia um espírito de valorização dos avanços científicos.

Formado na escola politécnica e adepto da objetividade científica, ele propôs-se analisar os fenômenos sociais com a mesma objetividade das ciências exatas. Para ele, os fenômenos sociais, assim como os fenômenos naturais, podem ser analisados de forma racional e sistemática, buscando-se as relações entre os fatos. Isto significa romper com a teologia e a metafísica. Seu interesse não é mais entender as causas externas dos fenômenos como, por exemplo, a criação do homem. Agora o interesse está voltado à busca de conhecimentos práticos presentes na vida em sociedade. Comte seguia três princípios:
1. O fenômeno social deve ser analisado considerando-se todo o contexto em que está inserido. Não se deve analisar o fenômeno social de forma isolada e sem correlacionamento com a sua história.

2. O conhecimento é passado de geração para geração_ e por este motivo progride. Assim, o estágio do conhecimento de uma determinada sociedade, ou seja, o seu grau de evolução é coerente com a sua organização social.

3. O homem é o mesmo por toda a parte e em todos os tempos por compartilhar as mesmas características biológicas. (LAKATOS; MARCONI, 1999)

Com base nestes princípios, segundo ele, a sociedade tende a evoluir no mesmo sentido passando por um processo de evolução na forma de obtenção do conhecimento. Esta evolução ele chamou de Lei dos Três Estados.

Lei dos Três Estados

Para Comte a história da civilização esta dividia em três fases:
1.  Fase Teológica ou mitológica: Esta fase representa o início da história da civilização humana, portanto a forma mais atrasada da sociedade. Nela, devido à falta de conhecimento: as explicações dos fenômenos sociais e naturais como, por exemplo, a morte, se faziam por meio do sobrenatural.
A fase teológica pode ser subdividida em três períodos: O período fetichista que acredita na força sobrenatural da “feitiçaria”, de alguns animais e até mesmo de objetos. Em seguida, há o período politeísta que prega a existência de vários Deuses. Os fenômenos eram explicados pela vontade divina. Assim, se a sociedade sofresse com alguma peste, isto aconteceu porque Deus os castigou. Desta forma, era prudente não “zangar” os deuses e, como tudo era vontade divina, a sociedade pouco caminhava rumo a evolução. O último período foi o monoteísta que pregava a existência de um único Deus criador e responsável por tudo que acontece. Em todos estes períodos as explicações racionais se limitavam à imaginação, isto é, se limitavam ao campo da abstração.

2. A segunda fase é a filosófica ou metafísica: Os constantes conflitos internos entre as entidades religiosas nos séculos XIV e XV enfraqueciam as explicações baseadas na vontade divina e fortaleciam as explicações racionais dos fenômenos. Embora a fase teológica e a fase metafísica tivessem por objetivo entender a natureza íntima das coisas e o porquê elas acontecem, ambas se diferenciam uma vez que ao se utilizarem dos princípios metafísicos, estes põem em cheque o medo e a subordinação do homem ao sobrenatural. Como os princípios metafísicos continuam no âmbito abstrato, para estes filósofos, para se entender o mundo físico, observável, é preciso buscar sua natureza que é abstrata. Um exemplo é dado por Bazarian (1986, p.27) “no século XVIII, o químico Stall, por desconhecer a verdadeira causa da combustão dos corpos, imaginou um fluído que ele chamou de ‘flogísmo’ e que seria o responsável pela combustão. Por exemplo,  o algodão pega fogo porque tem a qualidade flogísta”.

Embora a fase metafísica continue trabalhando o conhecimento de forma abstrata, ela teve sua importância ao questionar as explicações divinas e iniciar o interesse por explicações racionais. No âmbito político, isto enfraqueceu o poder dos reis e fortaleceu o poder jurista e, conseqüentemente o surgimento do Estado.

3. Fase Científica, que emergiu no início do século XVI: Os estudos de Descartes e as descobertas de Galileu Galilei enfraqueceram os conhecimentos com bases teológicas e metafísicas porque os avanços científicos não se interessavam mais em buscar explicações para fenômenos externos como, por exemplo, a origem ou criação do homem. Agora busca-se o conhecimento prático que está presente e é observável na vida do homem como, por exemplo, as leis, a sociedade e suas relações e a ética entre outros. No século XIX as descobertas científicas e invenções estavam no auge, a cidade se desenvolvia rapidamente criando uma valorização da ciência. Desta forma, as explicações de cunho abstrato foram substituídas pelo desejo de encontrar as leis e descobertas comprovadas que regem os fenômenos. E para isto adotou-se o uso metodológico observação-experimentação-repetição. É nesta terceira fase que se encontra o positivismo. (OLIVEIRA et. al., 1998)

“ Ciência torna-se uma palavra mágica ; é o novo mito que sobrevive até hoje no culto dos valores materiais, visíveis, tangíveis, com descaso e até com desprezo pelos valores invisíveis e intangíveis” (OLIVEIRA et. al, 1998 p. 54)

Segundo Oliveira et. al (1998), Comte percebeu que, mesmo com os avanços na vida em sociedade, o homem ainda não tinha maturidade para agir sem uma orientação filosófica e precisa de uma autoridade que os guie. Assim, acreditava que, por algum motivo, as pessoas aceitavam a autoridade religiosa e, então, ele criou uma nova religião para a humanidade que buscava difundir os princípios positivistas.

Esta religião tinha o objetivo de guiar as pessoas rumo à organização e progresso social valorizando a humanidade e o progresso científico. Havia cultos públicos e privados, pregações, missões, orações e outras ações existentes em outras religiões, principalmente a católica. Inspirado no calendário católico que homenageia os santos, Comte chegou a criar um calendário para homenagear heróis da humanidade tais como Platão, Aristóteles, Kant entre outros.

Seus princípios são: 
1. a única fonte da verdade é a experiência; 
2. a observação dos fatos é o começo de toda ciência; 
3. o conjunto, a soma de todos esses conhecimentos científicos constitui a filosofia; 
4. pelo fato de nós não podermos conhecer nada além da experiência, qualquer especulação abstrata, qualquer metafísica, em suma, qualquer filosofia é-nos impossível; 
5. tudo se reduz ao fenômeno Material; 
6. =estes fenômenos materiais são determinados por leis fixas (determinismo); 
7. para sairmos desse determinismo, é necessário conhecer essas leis, é necessária a pesquisa científica, a única que nos permite conhecer as leis da Natureza(OLIVEIRA et. al 1998, P. 55)

Apesar de o positivismo ter tido grande aceitação na Europa e em outros países, como o Brasil, e as ideias de Comte foram duramente criticadas pela tradição filosófica marxista.

Embora tenha criado uma religião para difundir os princípios positivistas, Comte  também ficou conhecido como “destruidor das religiões” porque ele atacou ferozmente as crenças com base no sobrenatural chegando a chamá-las de primeiro estágio da civilização humana, portanto altamente imatura. 

Métodos e Atitudes Positivistas

A maneira positivista de pensar está presente na terceira fase da civilização humana descrita por Comte. Vimos, também, que nesta fase a imaginação perde lugar para a observação e comprovação. O conhecimento científico é supervalorizado a ponto de Comte dizer que a verdade está com os cientistas e não com os teólogos. Desta forma, o pensamento positivista está fundamentado na comprovação científica. Esta já é a forma de pensar das ciências exatas tais como matemática física e química. Segundo Comte estas disciplinas, por serem menos complexas no sentido de poderem ser analisadas sem considerar o todo que as compõe, são mais fáceis de pensar positivamente. Mas chegou o momento de transpormos este modo de pensar para as ciências mais complexas como, por exemplo, a biologia e a política, chegando, enfim ao método de estudar a sociedade. Tal estudo teve o nome de física social e, posteriormente, sociologia.

Comte afirma que não há como estudar a sociedade de forma isolada, ou seja, sem considerar o todo social e sua história, como ocorre na matemática e outras ciências exatas (ARON, 1999). Vejamos um exemplo prático: Somente podemos explicar a lei de cotas racial se fizermos uma análise história. Assim, veremos que no passado os negros eram vistos como seres inferiores e sem alma e isto justificava a sua escravidão. Hoje, embora propaguemos o discurso de que todos somos iguais, observamos que os negros continuam marginalizados e, para combater essa discriminação, é preciso criar leis que mudem o comportamento social. Por isto temos a Lei nº 12.711/2012 referente às cotas raciais em algumas universidades.  É impossível explicar a existência das cotas raciais nas universidades sem entender a história da humanidade.

Cabe ressaltar que Comte acreditava que a análise dos fatos sociais não deve se limitar ao seu entendimento; é preciso colocar o conhecimento em prática. Segundo ele é preciso “ver para prever, a fim de prover”, ou seja, é importante conhecer a vida em sociedade e tudo o que ela envolve para que possamos prever as consequências de nossas ações. Se conseguirmos prever estas conseqüências, conseguiremos escolher as melhores ações que levarão a sociedade rumo ao progresso.

 A frase ‘ordem e progresso’ escrita na Bandeira do Brasil mostra que a nossa independência teve forte influencia do positivismo. Esta frase foi inspirada na premissa positivista de ‘amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim’.

Neutralidade da Ciência

Até aqui vimos como obtemos o conhecimento por meio da ciência, mas ficam algumas perguntas: O que é conhecimento? Como adquirimos? O que é a ciência? E o conhecimento científico? É possível o pesquisador ter uma postura neutra diante do objeto de investigação em ciências sociais?

Para responder estas perguntas é preciso ter em mente que o homem é um animal que busca entender e dominar o mundo a sua volta, isto está em sua natureza e é o que nos diferencia dos outros animais. Para isto, ele busca o conhecimento que, segundo Platão, é a crença verdadeira e justificada.

Esta frase nos permite concluir que todos os tipos de conhecimento, inclusive o conhecimento científico, partem de uma premissa que nos permite entender o fenômeno estudado até chegarmos a uma verdade. Podemos perceber ainda que, quando surge a dúvida ou quando as nossas crenças não são suficientes para entendermos a realidade, revemos e questionamos o nosso conhecimento e buscamos novas verdades. Cabe ressaltar que o entendimento ou explicação do fenômeno pode ser profundo ou superficial e pode seguir diferentes métodos de investigação. Entendemos que não há um caminho único, ou seja, há vários tipos de conhecimento que se apresentam como uma ordem evolutiva, como veremos a seguir.

Conhecimento Popular ou senso comum: O conhecimento popular ou senso comum é o conhecimento que herdamos sem grandes questionamentos. Suas principais características são: cultural, porque é passado de pai para filho; acrítica, porque não é questionado; superficial, porque não exige comprovação, e passiva, porque não há uma reflexão. Bazarian (1986) nos alerta dizendo que nem sempre este conhecimento é errôneo; ele até pode ser verdadeiro, mas ainda não foi comprovado. Por exemplo, as gerações antigas já diziam que o chá de boldo ajudava a digestão, porém, enquanto isto não foi comprovado, era um conhecimento popular. Após sua comprovação tornou-se um conhecimento científico.

Conhecimento Religioso: Conhecimento religioso ou conhecimento teológico é o conhecimento que parte do princípio de que a existência de Deus é inquestionável e, por isto, não precisa de comprovação. As explicações dos demais fenômenos advêm das explicações divinas, embora possam seguir uma razão lógica como vimos nos estudos de São Tomás de Aquino. Este conhecimento não pode ser comprovado porque parte da crença em experiências espirituais, místicas e sobrenaturais.

Conhecimento Filosófico: Partindo da premissa de que o homem  por ser um animal racional  é capaz de analisar o mundo a sua volta, o conhecimento filosófico critica todo o conhecimento dogmático. Seu princípio é a dúvida metódica, ou seja, duvidar de todas as explicações pré estabelecidas e superficiais.  A reflexão é o ponto chave da filosofia. Refletir sobre um tema significa voltar atrás, pensar no que já foi pensado com um maior rigor lógico, questionar. Não é qualquer reflexão que faz do homem um filósofo, ela precisa ser: 
1. Radical: Busca entender a origem e os conceitos fundamentais. 
2. Rigorosa: Deve ter um método claro para garantir a coerência de sua análise. A linguagem deve ser rigorosa para evitar ambiguidade. É comum criarem-se ternos como forma de evitar o duplo sentido. 3. De Conjunto: Deve analisar o conjunto e não de forma fragmentadas.  O conhecimento filosófico também não é passível de comprovação.

Conhecimento Científico: Como vimos, o conhecimento científico ganhou forças na I Revolução Industrial quando os interesses da sociedade estavam voltados para o seu progresso. O seu objeto de investigação está no universo material, ou seja, busca entender os fenômenos que podem ser observados e, por este motivo, dizemos que a ciência é materialista. No mesmo sentido o seu método de investigação também tem que ser passível de observação e, embora existam diferentes meios, a base está no ciclo de experimentação observação-repetição.  A ciência busca entender as leis gerais que levaram à ocorrência do fenômeno e que sejam universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie, ou seja, a ciência busca entender o que causou o fenômeno, se ele dependeu daquilo para que ocorresse e se, sempre que ocorrer sob a mesma circunstância, se repetirá o mesmo fenômeno pesquisado.

Um exemplo do conhecimento científico é a Teoria da Gravidade de Newton. Todos nós já ouvimos a história de que Newton, descansando a sombra de uma macieira foi atingido pela fruta. Ele pensou: Por que esta maçã caiu e não flutuou? Buscou a resposta fazendo um estudo sistemático e passível de observação e chegou a uma lei geral que ele denominou de Lei da Gravidade Universal na qual afirmou que existe uma força que atrai todos os objetos para o centro da terra. Esta força é a gravidade.

Nos dias atuais o conhecimento científico é o mais aceito, mas você já pensou para que serve a ciência? Se ela é neutra? Ou se a única forma de conhecermos a verdade é por meio científico? Afinal, por que a ciência é tão importante para a sociedade?
Já sabemos que os acontecimentos históricos levaram a sociedade a se desenvolver com base nos avanços científicos. No século XVIII o positivismo de Comte pregava que o objetivo da ciência era o melhoramento da qualidade de vida dos homens. Isto nos leva a pensar que a ciência é imparcial e neutra e que seu conhecimento não está subordinado a nenhum interesse de grupos sociais.

Defender a neutralidade da ciência significa acreditar que esta pode ser obtida sem ser influenciada pelos valores sociais e a cultura. Podemos ver este conceito em três teses:
1 Tese da neutralidade temática: a ciência é neutra porque o direcionamento da pesquisa científica, isto é, a escolha dos temas e problemas a serem investigados, responde apenas ao interesse em desenvolver o conhecimento como um fim em si mesmo.
2 Tese da neutralidade metodológica: a ciência é neutra porque procede de acordo com o método científico, segundo o qual a escolha racional entre as teorias não deve envolver, e de maneira geral não tem envolvido, valores sociais.
3 Tese da neutralidade factual: a ciência é neutra porque não envolve juízos de valor; ela apenas descreve a realidade, sem fazer prescrições; suas proposições são puramente factuais.  (OLIVEIRA, 2008, p. 98)

Porém, para estudiosos como Levy-Leblond e Marcuse, a neutralidade da ciência é visão romântica que não retrata a realidade. Jean Marc Levy-Leblond, ao receber o prêmio Thibaud da academia de Lyon em 1970 disse em seu discurso que, embora os avanços científicos tenham condições de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, isto na prática não acontece, devido às estruturas sociais. Segundo ele, as classes dominantes buscam utilizar estes avanços em benefício próprio. Isto explica porque, mesmo com avanços na área médica, ainda há hospitais em situação degradante; mesmo existindo os recursos, estes não repassados para a pesquisa médica. Levy-Leblond nos faz lembrar que, embora entre os anos 1958 e 1968 a ciência tenha permitido à sociedade aumentar a produtividade industrial, isto não gerou uma melhoria nas condições de trabalho e foi preciso uma grande greve de maio-junho de 1968 para que os trabalhadores obtivessem alguma melhoria.  Embora estes argumentos sejam da década de 70 na França, podemos observar fatos semelhantes nos dias atuais (este discurso foi publicado em Lês Temps Modernes, nº 288, julio/70).

Mas poderíamos nos perguntar: Será que isto ocorre devido ao mau uso da ciência? Se sim, poderíamos pensar que a ciência é neutra já que o cientista apenas buscou o conhecimento e o disponibilizou para a humanidade? Quem é o responsável pelo mau uso da ciência: o cientista ou os grupos sociais?

Existem, de fato, dois ramos da ciência. Um é a ciência pura, ou seja, a ciência motivada pela curiosidade do pesquisador. O outro é a ciência aplicada, aquela que é desenvolvida com um objetivo prático. Para esta é comum que seus conhecimentos sejam utilizados por grupos sociais de acordo com seus interesses de forma a fazer com que estes grupos permaneçam dominantes reforçando, assim, a estrutura social.

Neste sentido, Hebert Marcuse, um influente sociólogo e filósofo alemão naturalizado americano_ que viveu 1898 a 1979, afirma ser de responsabilidade do cientista o uso que a sociedade faz da ciência e suas consequências sociais. Isto porque ciência e sociedade estão ligadas e este elo determina o progresso ou regresso da sociedade.

É fácil encontrarmos exemplos que confirmem a ideia de Marcuse. A indústria bélica, sob a falácia do patriotismo contou com a ajuda de muitos cientistas para criar armas de destruição em massa. A bomba atômica foi desenvolvida com o propósito de acabar com o nazismo na Alemanha. Hoje, a posse de armas nucleares é usada com objetivos econômicos como, por exemplo, no Oriente médio.

Com base nos estudos de Marcuse (2009), podemos dizer que as estruturas sociais às quais a ciência está subordinada acarretam o seu mau uso. Mesmo que o cientista busque a pesquisa pura, como ela se difunde por meio de publicações, por exemplo, ela estará disponível para os interesses mercadológicos, tornando-se, assim uma mercadoria. Por vezes acontece que o pesquisador, a fim de satisfazer suas necessidades sociais, busca pesquisar o que o mercado deseja conhecer e valoriza sua descoberta, colocando a ciência a favor da classe dominante. Mesmo as instituições de pesquisas ou universidades que, teoricamente, não estão subordinadas ao mercado, não praticam a ciência neutra porque são financiadas por organizações privadas ou pelo governo, ambos com interesses particulares e isto faz com que a ciência incorpore o universo político e busque atender as necessidades mercadológicas. (MARCUSE, 2009).

O Humanismo Cristão de Jacques Maritain

Maritain nasceu em 18 de novembro de 1882 em Paris  e faleceu em 28 de abril de 1973 em
Toulouse. Sua família era de origem protestante, mas em 1906 converteu-se ao catolicismo.

Em 1905, se formou em filosofia pela na Universidade de Paris. Entre os anos de 1906-1908 cursou biologia na Universidade de Heidelberg, Alemanha. Mas foi no Collége de France que conheceu Henri Bergson, professor cuja influência marcou o início de seu pensamento filosófico. Sob a influência de Spinoza e Driesch desenvolveu a sua formação católica,  Maritain dedicou-se a estudar a filosofia de São Tomás de Aquino tornando-se, assim, o principal representante do neotomismo.

Autor de mais de sessenta livros, ele buscava analisar a sociedade moderna, sempre questionando sua cultura e sua condição moral, política e religiosa. Destas análises se originou a teoria do Humanismo Integral que está pautada em cinco pontos:
O primado da pessoa sobre as coisas (numa crítica à mercantilização da vida realizada pelo capitalismo) e sobre os processos sociais (crítica à filosofia da história marxista). O bem comum não se confunde com uma situação de equilíbrio entre os interesses individuais (como supõem a filosofia política liberal) nem pode ser construído em oposição ao bem pessoal (como supõem o coletivismo socialista). b. A pessoa é uma totalidade que não pode ser reduzida às suas várias dimensões (econômica, cultural, social, etc.). Entre estas dimensões, se sobressai a religiosa, pois a vida humana é forçosamente relação com o Mistério, e o coração do homem não se satisfaz enquanto não descansa em Deus, como lembrava Santo Agostinho. c. O objetivo último de todas as ações que acontecem na vida social é a construção do bem comum, que coincide com a plena realização de cada pessoa. d. A dimensão ética, enquanto manifestação da liberdade da pessoa, está presente em todas as esferas da vida (pessoal, econômica, política) e é necessária para a construção do bem comum. Portanto, não se pode pensar em progresso, desenvolvimento ou justiça social sem uma atenção particular para com a ética pessoal. e. O Estado não deve ser o grande protagonista das ações na vida social e na construção do bem comum. Este protagonismo cabe às pessoas e suas organizações. Ao Estado cabe garantir a possibilidade de realização destas ações, numa postura subsidiária. (RIBEIRO NETO, 2012 s.p).

Desta forma, sob a influência tomista, o Humanismo de Maritain, segundo Queiroz (s,d) tem os seus preceitos baseados nos princípios cristãos e no bem comum. O Estado é apenas uma ferramenta para o homem satisfazer suas necessidades coletivas. Cabe ao Estado promover o bem estar e a ordem pública, a fim de promover o bem comum que satisfará as necessidades coletivas. Mas nunca o Estado deve ser superior ao ser humano. Segundo Zilles (1987, p.32), Maritain uniu “a razão filosófica à fé cristã e a especulação teológica com vistas a um humanismo integral”. Seu humanismo integral inclui valores espirituais do cristianismo e queria abranger todos os valores humanos.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre os ideiais humanitários de Jacques Maritain, visitem o site Instituto Maritian do Brasil http://www.maritain.org.br/. Nele vocês encontrarão obras do autor, biografias e documentos pessoais, além de artigos de outros autores que compartilham estes ideias.

São Tomás de Aquino e o Tomismo


São Tomás de Aquino foi um Monge que viveu no século XIII, entre os anos de 1225 e 1274, na Itália. Seguiu a ordem dominicana e teve carreira acadêmica na Universidade de Paris. Sob forte influencia da filosofia de Aristóteles, Platão e de Santo Agostinho ele criou uma doutrina chamada tomismo que se tornou um marco da filosofia medieval. Nesta doutrina ele unificou o pensamento aristotélico  com a fé cristã. Conforme Marcondes (2002 p. 126), “São Tomás mostra então que a filosofia de Aristóteles é perfeitamente compatível com o cristianismo, abrindo, assim uma nova alternativa para o desenvolvimento da filosofia cristã”.

Para ele o conhecimento se origina de duas ordens: a natural e a sobrenatural. A ordem natural é adquirida pelo uso da razão e que busca o conhecimento por meio da ciência. Esta tem métodos próprios de investigação e a filosofia é um forte instrumento para a obtenção da verdade. Já a ordem sobrenatural é adquirida por revelações divinas e a verdade é obtida por meio da fé. Para este filósofo estas duas ordens não são opostas, como aparentam, e sim complementares. Segundo Costa (1993, p. 41) a razão pode se beneficiar da fé porque esta pode ajudar a “ilustrar, esclarecer, explicar e defender os dogmas revelados”.

Já a fé pode servir para orientar a razão “seja negativamente, impedindo-a de incorrer em muitos erros, seja positivamente, indicando-lhe a direção correta que deverá seguir em determinados temas da reflexão racional”.  Ele acrescenta que os dois tipos de conhecimento (com base na fé e com base na razão) têm a mesma origem: Deus. E, para provar racionalmente a existência de Deus, ele desenvolve ‘as cinco vias da prova da existência de Deus’ que, segundo Marcondes (2002) consistem em:
1ª prova: O argumento do movimento Partindo da premissa de que tudo que se move é movido por outro ser, ao fazer uma retrospectiva, chegamos ao primeiro ser movente que não precisa de outro ser para movê-lo. Este ser movente é Deus.
2ª prova: A causa eficiente Para ele nada surge do nada e isto sendo verdade tudo é efeito de algo ou alguma coisa. Porém, se, novamente fizermos uma retrospectiva, chegaremos a primeira causa existente que não foi efeito de algo, ou seja,  Deus.
3ª prova: A causa eficiente Para ele nada surge do nada e isto sendo verdade tudo é efeito de algo ou alguma coisa. Porém, se, novamente fizermos uma retrospectiva, chegaremos a primeira causa existente que não foi efeito de algo, ou seja,  Deus.
4ª prova: A metafísica É conhecida, também, pelo termo ‘grau de perfeição’. Para o filósofo tudo possui qualidades em um grau maior ou menor. Desta forma, as qualidades das coisas são comparativas, ou seja, só podemos afirmar se uma coisa é boa ou ruim, se é melhor ou pior quando a comparamos com outra coisa. Por exemplo, para eu afirmar que uma coisa é boa, preciso compará-la com outra coisa. Assim sendo, chegamos a conclusão de que existe algo que possui o grau maior de qualidade, algo perfeito e que é nosso parâmetro máximo de comparação. Este ser perfeito é Deus.
5ª prova: O argumento teológico Parte do pressuposto de que existe uma ordem e uma finalidade no universo. Assim, as coisas não existem e acontecem a esmo porque, se isto fosse verdade, a vida seria um caos. Esta ordem não acontece do nada, é preciso uma inteligência ordenadora para organizar as coisas direcionando-as para a sua finalidade e esta inteligência é Deus.  Para melhor entendermos podemos fazer uma analogia com o ato de escrever: Para escrevermos uma carta, por exemplo, as letras não surgem do nada, é preciso colocá-las em uma sequência para que a finalidade da escrita aconteça e, para colocar em uma ordem, é preciso que alguém as ordene.

Embora estes argumentos não sejam isentos de questionamentos, a grande contribuição de São Tomás de Aquino está na forma inédita de analisar a existência de Deus que, até então, era feita com base na fé. São Tomás pautou seus estudos na demonstração da existência de Deus a partir da razão.

Neotomismo

Esta corrente surgiu no século XIX, e pode ser definida como uma filosofia doutrinária que objetiva analisar os problemas contemporâneos com base na filosofia tomista. Muitos consideram o neotomísmo como sendo o tomismo atualizado capaz de solucionar os problemas contemporâneos. O neotomísmo considera toda a filosofia moderna a partir da filosofia de Descartes um erro que causou a crise no mundo moderno porque estes estudos se afastavam do metafísico e espiritual. Assim como o tomismo, o neotomísmo também busca conciliar a razão com a teologia. Desta forma afirma que o homem é, por natureza, livre, social e dotado de inteligência e por isto é capaz e tem o direito de desenvolver os mecanismos necessários à sua sobrevivência e desenvolvimento humano e espiritual.

O neotomísmo visa restabelecer valores morais e a obediência aos princípios cristãos, como forma de assegurar as mínimas condições de bem-estar social. Entre estes filósofos destacam- se Jacques Maritian, na França. O Brasil teve Alceu Amoroso Lima, conhecido também, por Tristão de Ataíde como seu maior representante. A profissão de serviço social teve forte influência das filosofias tomistas e neotomistas uma vez que o assistente social é o responsável por planejar e colocar em ação políticas públicas e programas sociais voltados para o bem-estar coletivo.

Esta filosofia condena qualquer forma de governo que adote uma política que cause dano ao direito do ser humano a uma vida digna e tudo que ela acarreta: a liberdade, a saúde, o emprego e a habitação em prol de interesses do estado porque o Estado não pode se sobrepor ao ser humano.

domingo, 4 de setembro de 2016

Cenário Tecnológico vs Processos de Negócio

Se observarmos a maneira como nos relacionamos com as empresas, veremos uma espécie de troca. As empresas relacionam-se entre si e com o mundo externo por meio de trocas de informações, insumos e produtos de modo geral. Tão importante quanto a troca de produtos e insumos, está a troca de informações, processo necessário para a própria sobrevivência das empresas na atualidade. Num mundo globalizado e altamente informatizado, a informação1 é um dos produtos mais valiosos para a gestão de uma empresa. Informação certa, no momento certo, no formato correto e da fonte certa pode mostrar oportunidades de negócios, ou ameaças, que levam os executivos a tomar decisões importantes para o sucesso do negócio (FOINA, 2013). Os quatro atributos da informação (valor, conceito, referência e utilidade) foram sendo incorporadas em sua concepção, com o passar do tempo.

O primeiro atributo foi o valor quando as tecnologias computacionais e sistemas de informação empresariais consolidavam dados para gerar valor como folha de pagamento, impostos, sistema contábil etc. O atributo conceitual surgiu com a introdução das técnicas de modelagem de dados e seus respectivos bancos e dicionários de dados. O atributo referência, surge através dos sistemas integrados de gestão como os ERP’s, CRM’s e recentemente, o atributo utilidade passou a ser o foco dos novos sistemas inteligentes de negócio (BI – Business Intelligence) e dos sistemas de apoio à decisão.

Tais atributos da informação foram sendo inseridos no cenário tecnológico das empresas como uma forma de demarcação da evolução das tecnologias computacionais. De um simples sistema de folha de pagamento a um sistema robusto de BI, foram anos de inovação tecnológica e esforços da área de TI para possibilitar uma realidade que ajudasse os executivos a tomarem decisões com base em dados sólidos e perspectivas mensuráveis do negócio, levando em conta variáveis complexas como por exemplo, os sujeitos que direta ou indiretamente interferem no sucesso de uma organização. A esses sujeitos é dado o nome de Stakeholders.

Stakeholders: compreende todos os envolvidos em um processo, que pode ser de caráter temporário (como um projeto) ou duradouro (como o negócio de uma empresa ou a missão de uma organização), que direta ou indiretamente interferem no sucesso do negócio. O sucesso de qualquer negócio depende da participação de suas partes interessadas e por isso é necessário assegurar que suas expectativas e necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos gestores. De modo geral, essas expectativas envolvem satisfação de necessidades, compensação financeira e comportamento ético. Cada interveniente pode possuir um determinado tipo de interesse no processo. O envolvimento de todos os intervenientes não maximiza obrigatoriamente o processo, mas permite achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e impactos negativos na execução desse processo. Uma organização que pretende ter uma existência estável e duradoura deve atender simultaneamente as necessidades de todas as suas partes interessadas.

Os principais stakeholders, também conhecidos por intervenientes, estão apresentados e descritos a seguir:

–consumidores: principal e direto parceiro do negócio, interferindo diretamente no desenvolvimento empresarial por meio da negociação de compra e venda de seus produtos e serviços, interferindo também em potencial de demanda, expectativa de preços, análise de concorrência, detecção de novas oportunidades, etc;
–fornecedores: engloba as relações de trocas de informações e produtos entre os fornecedores de insumos e bens de produção e a empresa, incluindo a remuneração do fornecedor pelos produtos e serviços fornecidos;
–empregados: resume todas as relações de troca de informação, serviços (trabalho) e remuneração (capital) entre a empresa e o mercado de mão de obra disponível na sociedade. Inclui a busca e seleção de profissionais, o dimensionamento da remuneração a ser paga a cada categoria, a definição de novas especialidades profissionais, etc.;
–mercado financeiro: consiste nas relações de troca de informações e ativos financeiros entre a empresa e as instituições financeiras. Inclui a busca de recursos de capital para financiamento das atividades empresariais, a aplicação de excedentes de capital no mercado, a detecção de oportunidades e restrições financeiras etc.;
–governo: aglutinados nessa relação, todas as rocas de informações e obrigações entre a empresa e os órgãos governamentais nas diversas esferas. Incluem-se aqui a oferta de serviços públicos básicos, o pagamento de impostos, o fornecimento de informações sobre resultados e capacidade instalada das empresas, censo demográfico e econômico, etc.;
–acionistas: menos evidente que as demais, essa relação engloba todas as trocas de informações e investimentos entre a empresa e seus acionistas e proprietários. Incluem-se aqui os investimentos feitos na empresa, os lucros, os dividendos, o estabelecimento de metas futuras, a avaliação de desempenho gerencial etc.;


Outros sujeitos como a comunidade, mídia, organizações não governamentais, também fazem parte da relação de parcerias com as empresas de modo geral e podem interferir direta ou indiretamente nos negócios de uma organização, devendo sempre serem levados em conta num processo de estudo e pesquisa mercadológica.

A TI e os processos de negócios nas organizações

A interação empresarial, com todos os seus intervenientes  (stakeholders) só é possível por meio de plataformas tecnológicas que, tal qual uma rede, conecta os indivíduos e permite uma comunicação eficaz entre os parceiros do negócio e as experiências entre eles. Observamos, também, que estes novos recursos afetam diretamente a maneira com a qual são tratadas a troca e a gestão das informações dentro dos ambientes de negócios, levando as organizações a um processo quase que obrigatório de adaptação e reestruturação na forma como conduzem suas atividades, seus serviços, processos internos, ações de suporte, estrutura pessoal (base de conhecimento), estratégias de negócio, orçamentos, riscos operacionais e, principalmente, na eficácia do processo de gestão destes recursos, disponibilizados na forma de serviço, tratado, pelas áreas responsáveis, por conduzir a tecnologia da informação dentro das organizações.

O desafio então passa a ser assimilar e tratar esta avalanche de informações disponíveis nos dispositivos digitais que dispomos, de modo que elas se tornem efetivas na tomada de decisão das organizações em seus processos de negócio, e, uma forma de auxiliar este processo todo passa a ser a implementação de um ou mais “Processos de Gestão”, estruturados e conhecidos e, principalmente, pelo alinhamento da TI com um Planejamento Estratégico, sendo este o maior desafio, quando pensamos em TI como suporte aos Processos de Negócios.

A Tecnologia da Informação esteve durante muito tempo associada a hardware (equipamentos) e softwares (aplicativos), que eram tidos exclusivamente como inovações que encantavam aqueles que utilizavam em seu dia a dia, sem se preocupar detalhadamente com a sua participação estratégica no contexto organizacional, ou seja, não era bem aplicada como um fator de aumento de lucratividade ou redução dos custos, a TI ainda era para algumas empresas somente um símbolo de avanço tecnológico, aparência na sua “expansão empresarial”. Para as empresas e organizações de hoje, os Sistemas de Informação e a TI representam uma infraestrutura de suporte, gestão e apoio, obrigatórios para todos os seus processos de negócio, sendo esta infraestrutura uma das principais responsáveis pela continuidade da cadeia produtiva e integração das empresas com seus fornecedores e clientes, permitindo a sua sobrevivência e crescimento. Com isso, a TI e seus Sistemas de Informação Gerenciais adquirem importância estratégica para uma empresa, por possibilitar um aumento na eficiência e eficácia nas atividades que integram os processos que integram a cadeia de valor e suportam de forma efetiva as necessidades das suas operações, minimizando o risco de interrupção ao negócio, permitindo real aplicabilidade (custo x benefício) na utilização pelos seus usuários, sejam colaboradores (usuários internos), clientes ou demais parceiros do negócio.  Para que a área de TI consiga atingir todos esses objetivos organizações, é preciso uma estruturação que permita gerenciar esse volume de tarefas, dividindo a área de suporte de tecnologia da informação em duas grandes áreas de atuação:

Infraestrutura de Suporte Operacional: a primeira área pode ser denominada como sendo a de infraestrutura de suporte tecnológico operacional e tem como objetivo fornecer toda a estrutura fundamental de tecnologia e comunicação para a operação funcional da empresa, ou seja: os equipamentos compostos pelos computadores (desktops, notebooks, servidores de arquivos, servidores de aplicações e de banco de dados, etc.), impressoras, equipamentos e elementos de comunicação e rede interna e externa, rede wireless, centrais telefônicas, link de comunicação de voz e dados, sistemas de vídeo conferência, sistemas operacionais, planilhas eletrônicas, aplicações de edição de texto etc.

Infraestrutura de Aplicações: a segunda área pode ser denominada como sendo a de infraestrutura de aplicações (softwares ou sistemas), que atuam no âmbito operacional, gerencial e estratégico dentro de uma visão de tratamento e consolidação da informação, onde podemos encontrar os sistemas internos da organização tais como: intranet, sistemas de operação e controle (estoque, RH, finanças, comercial, contar a pagar e receber, logística, CRM), ou aqueles que atuam de forma integrada em todos os processos de organização que são conhecidos também por Soluções de Sistemas de Informações Gerenciais ou Corporativos. A integração TI com os processos de negócios empresariais permite às organizações, uma eficaz coordenação de suas atividades em conjunto com seus parceiros, objetivando otimizar sua cadeia de valor e firmando sólidas parcerias baseadas, muitas vezes, numa mesma plataforma de integração tecnológica, por apoiarem-se num mesmo processo automatizado de cadeia de fornecimento. Um sistema eficaz de integração da cadeia de fornecimento pode maximizar os resultados do negócio a todos os envolvidos (stakeholders).

A integração TI com os Processos de Negócio torna-se, portanto, um dos desafios mais importantes para as organizações, pois ela irá oportunizar a implementação de um sistema ou sistemas de gestão empresarial capaz de interligar organizações que possibilite um ganho competitivo mútuo.

Apesar dos benefícios que a tecnologia da informação pode proporcionar na eficaz gestão empresarial, como estamos mostrando até agora, ela também pode se tornar um problema, quando mal implementada ou mal projetada, assim como qualquer outra estratégia organizacional que seja implantada sem o devido planejamento. Em outras palavras, a TI e os sistemas integrados de gestão implantados de forma equivocada, poderão trazer resultados inesperados como, por exemplo:
–Não integrar com a cadeia produtiva: clientes, fornecedores, etc;
–Não possuir pessoal técnico disponível e capacitado para efetuar as implementações;
–Possua controles e requisitos inadequados de segurança da informação;
–Não integrar com o ambiente de TI anteriormente existente;
–Os usuários não forem capacitados (falta de treinamento).
–A solução de TI não diminua a produtividade, após a sua implementação;
–Não for de fácil uso e manutenção;
–Não viabilizar todas as suas funcionalidades, conforme especificado.

 Isso pode ser previamente desenhado, quando as organizações projetam suas tecnologias. Portanto, a etapa de projeção  e gestão do projeto de TI pode ajudar neste sentido. Falhas muito comuns na fase de gestão do projeto de TI, listadas anteriormente, apontando a importância de um bom alinhamento da TI com os processos de negócios, para que haja total compreensão daquilo que a organização necessita em termos tecnológicos. Um bom planejamento de implementação de TI, ou, um bom gerenciamento de projeto de TI pode reduzir essas margens de erros ou até mesmo eliminá-las. De acordo com as definições acima, um projeto é algo que tem um início e fim, produz um produto ou serviço exclusivo e pode ser feito progressivamente. Os projetos dentro de uma organização tem por objetivos (e não somente isso) atender ao planejamento estratégico da empresa sendo temporário e tratado por uma abordagem de gerenciamento de projetos.

Um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo! Um projeto é um empreendimento único, com início e fim determinados, que utiliza recursos e é conduzido por pessoas, visando atingir objetivos pré-definidos, se caracterizando por ser temporário, exclusivo e progressivo

A figura a seguir serve para ilustrar de uma maneira bem interessante, e até mesmo divertida, o que ocorre com implementação de projetos de TI, quando falta o alinhamento entre TI com os processos de negócios.




Quando a equipe de TI não demonstra ter o conhecimento dos processos de negócios da organização, ou quando a equipe de TI não participa dos processos de melhoria, soluções e até mesmo dos resultados organizacionais, não conseguirá contribuir efetivamente em seu crescimento e competitividade.

O que podemos constatar de tudo isso, é a importância de mecanismos tecnológicos de disseminação da informação entre os parceiros de negócios, o que pode tornar uma vantagem competitiva para a empresa e sua cadeia produtiva. Quanto mais rápida e precisa for o repasse, análise e mineração das informações, melhor será a resposta da empresa aos desafios encontrados. Uma gestão estratégica da TI aproxima os elos da cadeia de valor e gera confiabilidade aos parceiros, sejam eles internos (colaboradores, acionistas, diretoria) como também os parceiros externos (clientes, fornecedores, governo), com relação aos serviços prestados e entregues, possibilitando estudos com base em relatórios gerenciais, indicadores de desempenho, etc., demonstrando transparência e maturidade em suas relações comerciais.

Saiba mais ITIL e o gerenciamento de serviços de TI O gerenciamento de serviços de TI objetiva prover um serviço de TI com qualidade e alinhado às necessidades do negócio. Este gerenciamento de serviços de TI, segundo Magalhães e Pinheiro (2007), é a integração entre pessoas, processos e tecnologias. Estes são componentes de um serviço de TI, cujo objetivo é o de viabilizar a entrega e o suporte dos serviços de TI, focados nas necessidades dos clientes e alinhados às estratégias de negócio.
Para a ITIL, considera-se como melhor prática a de gerenciamento que utiliza elementos que possam garantir à empresa um desempenho maior que o utilizado com suas práticas atuais. Sua adoção nas empresas ocorre de forma lenta; nesse sentido, a melhor prática é a forma inicial de boa prática. Conceito: É chamada de boa prática uma prática que é aceita e muito utilizada nas empresas. Nesse sentido, ela se torna uma commodity, pois praticamente todas as empresas a usam. Essa prática pode ser regulamentada e dar origem a padrões e leis específicas. A ITIL V3 é considerada como uma boa prática, sendo um padrão genérico disponível no mercado podendo ser aplicado em vários ambientes e situações. Para melhor entender o gerenciamento de serviços de TI, você precisa compreender o que é um serviço. Para a ITIL V2, um serviço é um ou mais sistemas de TI, utilizados para suportar um processo de negócio (OGC, 2006).  Já na ITIL V3, o serviço é um meio de entregar valor aos clientes, facilitando os resultados que os clientes querem alcançar, sem ter que assumir os custos e riscos (BON, 2008). Por exemplo, o departamento financeiro da empresa em que você trabalha, que é um cliente da área de TI, utiliza o software de contas a pagar. A área de TI precisa ter toda uma infraestrutura para que este serviço funcione da maneira adequada, como servidores, storage, rede, backup, energia elétrica, climatização, etc. O pessoal da área financeira não sabe e nem precisa saber sobre todos os componentes  necessários para rodar este serviço, pois, para eles, o que interessa é que o serviço funcione da maneira esperada e acordada. Para que o serviço possa entregar valor, ele tem de funcionar e precisa estar alinhado com os requisitos acordados com o cliente. Imagine um determinado processo de negócio que depende deste serviço para existir, e, se este serviço falhar, o negócio poderá ter um prejuízo financeiro. Os ativos de um provedor de serviços incluem qualquer coisa que possa contribuir para a entrega de um serviço e são divididos em dois tipos: habilidades (capabilities) e recursos (resources). Conceito: Diante destes conceitos sobre serviços, a ITIL V3 define gerenciamento de serviços como o conjunto de habilidades organizacionais especializadas para prover valor aos clientes na forma de serviços. (Diego Macedo) 

Disponível em: <http://www.diegomacedo.com.br/itil-e-o-gerenciamento-de-servicos-de-ti/>.




domingo, 21 de agosto de 2016

Antropologia Cultural


O que é antropologia?
         A antropologia situa-se no círculo das denominadas ciências humanas e sociais.
         O surgimento das ciências humanas e sociais processa-se em um contexto de transformações na civilização ocidental, no qual adquiriam prestígio as explicações científicas sobre os fenômenos da natureza.
         A humanidade constitui o objeto de conhecimento da antropologia: seu interesse volta-se para a diversidade de formas de cultura e sociedade.
         As investigações antropológicas empenham-se em compreender o homem em suas múltiplas manifestações socioculturais, isto é, as diferentes formas de sociedades humanas, com seus hábitos, valores, tradições, símbolos, linguagens, ritos e cultura.
         Michel de Montaigne (1533-1592): um dos precursores da antropologia científica.
         Montaigne: constatação de que atribuímos valor inferior ao que não nos é familiar; crítica ao etnocentrismo.
         Na história do pensamento antropológico, desenvolvem-se perspectivas metodológicas e teóricas distintas e, em alguns casos, opostas.

A primeira geração de antropólogos: a concepção evolucionista.
         A primeira geração de antropólogos não se dedicou sistematicamente a pesquisas de campo.

A concepção evolucionista
         Predomínio da noção evolucionista entre os primeiros antropólogos: as teses de Lewis Morgan, Edward Tylor e James Frazer têm como pressuposto uma humanidade que percorre um único caminho cultural.
         Para o evolucionismo, as sociedades humanas atravessam as mesmas etapas, sendo a moderna civilização ocidental o seu patamar superior.
         Adotando como referência os aspectos culturais da moderna civilização ocidental, a antropologia evolucionista hierarquiza as sociedades humanas, considerando primitivas ou atrasadas todas as formas de organização social distintas desse modelo ocidental.
         Lewis Morgan: percurso evolutivo da humanidade: selvageria, barbárie e civilização.
         Edward Tylor: história da humanidade compreendida como parte da história da natureza: pensamentos, desejos e ações seguindo leis, assim como os fenômenos da natureza.
         James Frazer: percurso humano composto pelos estágios mágico, religioso e científico.

Alteridade e etnocentrismo
         A noção de alteridade consiste na relação do eu com o outro, isto é, diz respeito ao jogo identidade/diferença; sistemas de alteridade articulam a oposição “nós”/ “eles” segundo uma gradação da diferença.
         O olhar etnocêntrico situa a sociedade do observador no centro do universo; os membros de uma sociedade tendem a considerar como naturais e corretos os costumes, as regras, ao valores, as práticas, enfim, a visão de mundo de sua sociedade.
         O olhar etnocêntrico situa a sociedade do observador no centro do universo; os membros de uma sociedade tendem a considerar como naturais e corretos os costumes, as regras, ao valores, as práticas, enfim, a visão de mundo de sua sociedade.

O rompimento com o evolucionismo
         As crescentes críticas à teoria antropológica evolucionista centram-se no etnocentrismo e na análise unicamente diacrônica da cultura.
         Etnocentrismo: assentado na dicotomia civilização/barbárie, elege a civilização ocidental como medida e modelo de desenvolvimento a partir do qual todas as outras formas de sociedade devem ser avaliadas.
         Análise diacrônica: fenômenos culturais situados no eixo de uma história universal.
         Para as novas tendências antropológicas, as outras culturas passam a interessar não mais como exemplares de uma etapa da evolução social, mas sim como totalidades sociais próprias.
         Crítica à ausência de rigorosas pesquisas etnográficas: condena-se a antropologia de gabinete dos evolucionistas.
         Pesquisa de campo delineada pela intensa convivência do antropólogo com os nativos e pela preocupação de compreender interiormente as relações socioculturais.

O método etnográfico
         Método etnográfico: exige o convívio do pesquisador com a comunidade perscrutada, isto é, ele deve interagir com as pessoas e procurar imergir no cotidiano do grupo social.
         Define-se uma nova atitude com relação à prática de investigação, fruto de uma preocupação com as condições  de coleta do dado etnográfico, com a origem dos relatos e com a construção da base empírica da reflexão antropológica.
         A ideia de pesquisa de campo implica que o pesquisador se desloque para o lugar que lhe propiciará o contato direto com seu objeto de estudo, permanecendo nele o intervalo de tempo necessário para testemunhar os fatos que deseja interpretar ou analisar.